*Quando este artigo utilizar o termo “mulher/es”, estamos nos referindo à categorização biológica do corpo humano, que chamamos de sexo, referindo-se a pessoas nascidas com útero, e não ao gênero de cada um.
Congelamento de óvulos
O congelamento de óvulos é um processo no qual os óvulos são removidos dos ovários de uma pessoa com útero e congelados para uso posterior. Geralmente é feito quando a pessoa é mais jovem, para que ela possa preservar sua fertilidade para o futuro.
A produção de óvulos de uma mulher começa a cair na casa dos 30 anos e, aos 40 anos, cai para cerca de 5% do que era aos 25 anos. O congelamento de óvulos oferece uma oportunidade para as pessoas com útero terem mais controle sobre seu destino reprodutivo.
Para que possa ser realizada, é necessário que a paciente passe por um processo idêntico ao da fertilização in vitro. Os ovários serão estimulados com gonadotrofinas (remedio subcutâneo), os óvulos serão coletados, encaminhados para o laboratório e congelados pela vitrificação. Apenas são congelados óvulos classificados em M2 ( maduros).
Para quem é indicado o congelamento de óvulos?
O congelamento de óvulos pode ser indicado para pessoas em diferentes situações. Citaremos aqui alguns dos mais frequentes:
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Mulheres a partir dos 30 anos que desejam engravidar mas não têm planos para o futuro próximo
Quando nascem, as pessoas com útero já vêm ao mundo com todos os óvulos que irão liberar ao longo da vida – uma reserva de cerca de 2 milhões de óvulos. Assim, à medida que a pessoa envelhece, essa reserva vai se tornando menor e os óvulos mais velhos, aumentando chance de abortamento.
Assim, é muito comum que mulheres que desejam garantir a chance de uma gravidez futura, mas que estão avançando em sua maturidade fértil (que varia com a idade, saúde e histórico familiar de cada um), busquem o congelamento de óvulos.
A motivação de cada pessoa pode ser diferente – o momento certo de cada um pode estar indefinido, relacionado à carreira, família, objetivos pessoais, transição de gênero ou qualquer outra razão. Se você pensa em engravidar no futuro, mas não agora, e gostaria de garantir óvulos saudáveis para o seu momento, busque a orientação de um profissional.
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Mulheres com reserva ovariana diminuída
Algumas pessoas têm a queda da reserva ovariana mais acelerada, por diversos motivos. A maioria dos casos é assintomática, e pode ser diagnosticada por meio de algum exame que avalie a reserva ovariana, como dosagem do hormônio antimulleriano ou contagem de folículos antrais pelo ultrassom transvaginal.
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Mulheres com histórico familiar de menopausa precoce
Mulheres com risco de falência ovariana precoce, também chamada de insuficiência ovariana prematura (IOP), poderão congelar seus óvulos preventivamente. Na época em que desejarem engravidar, caso seu ovário não esteja funcionando adequadamente, elas poderão utilizar os óvulos que foram congelados anteriormente. Caso contrário, se os ovários estiverem funcionando plenamente, poderão tentar engravidar naturalmente.
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Pacientes de Fertilização in Vitro (FIV)
Em ciclos de FIV, algumas vezes pode haver “excesso” de óvulos disponíveis. Para evitar um número excessivo de embriões, o congelamento de óvulos é uma opção viável, pois óvulos são células não-fecundadas e podem ser descartados sem complicações éticas se não forem utilizados.
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Pessoas que passarão por tratamentos que podem afetar a fertilidade
Pacientes que desejam engravidar mas antes passarão por tratamentos agressivos para neoplasias, como quimioterapia e radioterapia, poderão, antes do tratamento, ter os seus óvulos congelados. É fundamental, nestes casos, que se observe a inexistência do agravamento da doença pelos hormônios indutores da ovulação. Muitas vezes, opta-se pela retirada de fragmentos de tecido ovariano, que serão congelados. Quando a paciente estiver curada da doença, estes fragmentos poderão ser reimplantados.
Quais exames são necessários antes do processo de congelamento de óvulos?
Cada pessoa terá uma jornada neste processo, visto que envolve questões que vão desde o objetivo do congelamento, passando pela saúde do paciente e até mesmo o histórico familiar. Todas as questões devem ser discutidas entre a paciente e seu médico, que somente assim poderá definir o escopo detalhado dos passos a serem seguidos para que o congelamento dos óvulos seja feito com eficácia e segurança.
No geral, os exames mais requisitados
- Citologia oncótica de colo do útero; ( como parte da rotina ginecológica)
- Exame de secreção vaginal: bacterioscopia e cultura, culturas para Micoplasma / Ureaplasma e pesquisa de clamídia por PCR;
- Sorologias: Hepatite B, hepatite C, sífilis, HIV 1 e 2, HTLV 1 e 2, zika virus IgM (obrigatórios para laboratório de Fertilização in vitro)
- Pesquisa de reserva ovariana: FSH, LH e estradiol (entre 2º e 5º dia do ciclo), hormônio antimulleriano e/ou ultrassom para contagem de folículos antrais;
- Outros hormônios: TSH. T4 livre e Prolactina.
Outros exames podem ser solicitados em situações especiais e de forma individualizada: Cariótipo com Banda G, ultrassom de mamas, ressonância nuclear magnética de pelve ou ultrassom transvaginal com preparo intestinal para pesquisa de endometriose.
Fases do processo de congelamento
Para o congelamento dos óvulos, são três fases:
1ª Fase – Estimulação ovariana controlada. Em média de 8 a 12 dias.
2ª Fase – Aspiração e recuperação dos óvulos. (35 a 36 hrs após aplicação da medicação para trigger)
3ª Fase – Congelamento (Vitrificação)
Descongelamento e FIV
Antes da utilização dos óvulos congelados, deve-se preparar o útero de quem irá recebê-los. Se a mulher tem ciclos regulares, isso pode ser feito dentro de um ciclo ovulatório espontâneo, com a presença somente dos hormônios produzidos pelo próprio organismo e acompanhado por ultrassom e dosagens hormonais (estradiol, progesterona e LH). No momento da ovulação, os oócitos são descongelados e a progesterona é introduzida. Ou também é possível através de ciclo artificial com uso de estradiol via oral ou transdérmica e após associar progesterona via vaginal.
No descongelamento, os óvulos são aquecidos e retirados do meio conservante que os manteve no período em que estiveram vitrificados. Em seguida, são encaminhados para o processo de fertilização. Esta fase é feita através da técnica de ICSI. Os embriões têm seu crescimento acompanhado até o terceiro ou quinto dia, quando então são transferidos ao útero.
São então selecionados os embriões com melhor potencial de sucesso. O embriologista, a pessoa que irá engravidar (ou o casal) com auxilio do médico decidem o número de embriões que serão transferidos- ele pode variar de um a três, e que dependerá das regras da ética, da idade da mulher e da qualidade dos embriões. A transferência é indolor, realizada sob a visão do ultrassom, com cateter flexível, geralmente sem anestesia, através da vagina.
Após 9 a 11 dias, deve ser colhido β-hCG para confirmar a gravidez. Sendo positivo, a reposição de estradiol e progesterona é mantida até completar 12 semanas de gestação, quando a placenta já produz estes hormônios em quantidade suficiente.
Cerca de 90% dos óvulos resistem ao descongelamento e a taxa de sucesso de gravidez em torno de até 60%, dependendo do número de óvulos congelados e em que idade da mulher ocorreu o congelamento.
Dúvidas? Fale conosco.
A Dra. Lorena Urbanetz [RQE 84889 | RQE 84889-1 | RQE 84889- 2] é médica especialista em reprodução assistida e tratamentos de fertilização in vitro (FIV). Atende em São Paulo, na Clínica Gera. Entre em contato por telefone ou WhatsApp e agende um horário para uma conversa.
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